Chibata

 “Você é um monstro!”

"Você é tão pura.”

É diferente, né? São diferentes impressões, às vezes da mesma pessoa. Cada um tem de mim o que merece. O QUE MERECE, não o que supre as tuas expectativas, por que elas te pertencem, e somente a ti. Esta não sou eu. Não um monstro, nem tão pura, eu sou fruto das circunstâncias.

Como um monstro, me vejo tão capaz, tão destemida, e completamente louca. Eu rio no momento em que precisava pedir ajuda. Por que? Rio de minha própria fraqueza, do quanto deixei aquilo me abalar, do quanto permiti ser influenciada. Mas, como um último meio de defesa, não deixo saberem que não me resta mais do que uma vírgula de vida, não deixo saberem que mais um pouco me enlouqueceria por completo, e eu simplesmente faço com meu riso pareça ser de você. Disfarço meu desespero de um sarro, faço você se sentir fraco demais, e se perguntar: “De onde saiu essa força para ela ainda estar de pé?” (Simplesmente não há essa força), e “Que tipo de monstro ainda ri sob tanta dor?” (Um que não tem muitas alternativas para lhe derrubar, além de tentar te convencer de que você já está derrubado).

Como pura, eu choro… geralmente é num momento seguinte à loucura. Estando o mais sozinha que eu possa ficar, eu vou chorar. Chorar por todas essas dores que eu não me permiti. É como usar uma armadura de metal na maior e mais duradoura postura oficial, sem ceder, e enfim, sozinha, poder tirar a armadura, e chorar pelos calos que ela causou, e que doeram por todo aquele tempo, mas eu não me permitia expressar.

Meu maior medo é chorar em público. Tenho medo que vejam que eu sou sim uma fraca, pois se sendo forte ainda me desafiam, então como fraca eu seria explorada. A pura que sou, a eu que sente, é uma criança, e ela não consegue viver a vida real, ela é frágil demais para isso. Ela não aguentaria.

Eu acho, na verdade, que já não aguento há muito tempo. Nunca aguentei. Inúmeras vezes cheguei a essa última vírgula de vida, contando com a última esperança advinda da loucura, e que assim tivessem medo, preferindo isto que deixar ultrapassar os limites da fraqueza, fazendo com que sentissem pena. Eu abomino a misericórdia de mim mesma.

Por esse fingir aguentar, eu sempre duro mais um dia. “Só mais um!”, e assim todas as vezes. Eu não aguentaria dois dias vestida de armadura. Estar de armadura corta, molda e cicatriza o corpo naquele formato. Eu viraria uma versão distorcida da minha criança, e então talvez meu corpo durasse muito tempo sob essa casca, mas eu, de fato EU, não duraria. Eu preciso tirar essa armadura, lavar e curar minhas feridas, chorar a dor delas, e então encarar os calos que minha dignidade me exigem. Eu preciso ter o direito de chorar.

Às vezes seguro coisas, pessoas, momentos… Seguro apenas com a ideia de que ainda tenho carne para ser chicoteada. Mas se na verdade, o chicote já chegou aos meus ossos, e estão agora apenas os riscando, sem mais carne, até os corroer? Se eu já estiver diante de uma humilhação da qual eu não seja capaz de ver?

Eu não preciso me deixar afogar se alcanço o chão. Não preciso ficar segurando uma barra de ferro enquanto ela esquenta, se aquela barra não me será útil.

Eu não sei mais quem eu sou… acho que fiquei tempo demais dentro da armadura, acho que já me moldei sem dar conta, e por mais que eu saia dela pra chorar, eu já saio modelada e corroída. Acho que a dor do calo está mais constante do que nunca, acho que essa dor agora sou eu também. Devo já ter me distorcido.

Acredito finalmente, que hoje já sou um pouco a armadura, e a armadura é um pouco mais anjo. Uma criança de 8 anos jamais deveria precisar de uma armadura para não morrer, num campo de batalha chamado “a própria mente.”

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