Vamos falar de coisas que doem? (...)

 (...) Unha encravada, cabeça-de-prego, dente inflamado, esperança… Não… Talvez este último doa demais para esta lista.

Por que dói demais? Experimenta ter. Experimenta tingir de verde a lama do umbral que te engole desde os pés e te puxa à baixo, até sufocar-te chegando ao pescoço. 

Tantos gritos ao redor e você chora por ajudar cada alma gritante, sem notar que mergulha cada vez mais fundo nessa piscina de pesadelos. Você afunda 1 centímetro por minuto, mas cada um que tu te moves para salvar, te come 30 centímetros como um lanche, e você continua disposta a se afogar. Quantas vidas serão salvas em troca da tua? Salvar milhares e morrer por isto é mais que justo, pois só te exigem tua alma em troca de tantas libertações.

Entendo Jesus…

Mas, de volta à esperança, sorrir enquanto se afoga na esperança da piscina magicamente secar, só torna teu afogamento um espetáculo a ser aplaudido. Tingir de verde a escuridão só deixa o fim colorido. De alguma forma a esperança sempre vai te convencer de que “se está bonito, você não precisa de ajuda, ainda é bom estar ali”, e isso faz com que você só perceba que precisa sair dali, quando sair se fizer impossível, pois está enraizado, plantado num vaso que limita teu tamanho igual um bonsai.

Eu lamento pelos bonsais…

Horrível pensar como é deitar num lugar que não te repousa, fechar os olhos e acordar cada dia mais cansado, só pensando que “um dia a mais aqui é um dia a menos aqui”, sem se dar conta de que isso se encaixa à própria vida, pois um dia a mais nessa existência também equivale a um dia a menos. É isso o que queremos?

Esperança é como flores num velório, resquícios de vida naquela despedida, mas que unicamente existem para ocultar o cheiro podre da carne.

Esperança é algo bonito de se ver, pois parecer bela é sua função. No entanto devemos parar de romantizar os esperançosos, pois só estes sabem o que é costurar a própria perna no lugar pela quinta vez, pois esta caiu no caminho, e mesmo assim não parar de andar, ou às vezes correr, por que sempre falta cada vez menos estrada.

No fim da estrada o troféu é uma cova aberta para deitar e descansar. Não é exatamente como gostaríamos que fosse o repouso, né? Mas isso nunca foi um mistério, sempre nos foi dado claramente o início e o fim dessa jornada. Você correu por sua cova por que quis, por que foi burro o suficiente para ter esperança de que algo mudasse.


Nesse nosso livro, o fim foi escrito primeiro.

Eu abro mão da esperança.


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